Pensando o Viver

O lado natural, humano e social de quem pensa o viver, não apenas como um historiador, mas também como um transformador.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Terremoto no Nepal

Periodicamente, a natureza, em seu estado de natural independência ética ou moral, uma vez que a natureza não possui desígnios e nem designador, planos e nem planejador, atua assim naturalmente criando situações de catástrofe que afetam direta e indiretamente o viver de muitos. A natureza é aética em sua essência e em sua realização, e sem consciência de seu “comportamento”, ela não age, ele é reflexo dela mesma pelas leis naturais e básicas da física, da química e da biologia. Mas isso não diminui o impacto doloroso que impõe sobre muitos.

Não foi diferente desta vez, mais uma vez um evento geológico leva a morte, ou ao sofrimento, milhares de pessoas. Evento este sem intenção, como tantos outros eventos naturais, que periodicamente nos assolam, como furacões, temporais, tsunamis, terremotos, meteoros, epidemias, entre outros, mas que, por mais que os entenda como natural, ainda me chocam profundamente, não pelo evento em si, ou pelas perdas materiais, mas totalmente pelas perdas humanas, ou pelo sofrimento daqueles que perderam amigos e familiares. A perda material em si não me imputa maiores dores, mas o sofrimento daqueles que por algum evento natural (ou não) se veem sem tudo, ou parte principal do que era sua vida, me choca também. Eventos deste tipo não são decorrentes de nenhuma ação humana, eles acontecem, de forma natural, movidos unicamente como reflexo e ação das próprias leis naturais que dão corpo e estrutura a própria natureza. Entendo que a natureza, o nosso planeta neste caso, é ele próprio reflexo e causa, pois que é ele natureza, e é também as próprias leis naturais, sendo assim ela, a natureza, é reação e ação dela própria, causa e efeito dela mesma, origem e evento de si própria.

Longe de ser perfeito, longe de poder me achar um humano que some algum real valor a humanidade, sofro quando eventos, mesmo que naturais, levem ao sofrimento irmãos em espécie, mesmo que do outro lado do planeta. Mas desta vez, me chocou também o comportamento de alguns conhecidos, que sem dor e sem piedade, falaram ser contra alguma ajuda humanitária e social a aquele povo, pois que já temos pobreza e dor por aqui também. O que me incomodou não foi somente a insensibilidade de que todo e qualquer sofrimento é digno de ajuda, mas foi a confusão feita entre sofrimento social, causado e mantido por uma sociedade que ajudamos a construir e manter, e o sofrimento pego emergencialmente. Aqueles conhecidos possuem a consciência da miséria e do sofrimento de muitos por este nosso país, mas o que me doeu foi ver que eles acabam entendendo que a única ação que devem ter, ou que deveriam ter, é ajudar caritativamente aqueles que sofrem, e por isso desviar bens, agua e alimentação para aquele povo, retiraria estes mesmo bens e alimentos da caridade local. Estes conhecidos não se sentem culpados pela sociedade desumana que mantemos, não se tocam que para os problemas sociais, políticos, e econômicos, que levam parte de nosso povo a um estado de abandono, de sub emprego, de sofrimento e de exilio de sua própria humanidade, a melhor ação é a transformação, é a ousada luta para mudar o que aqui está, que a caridade é necessária sim, mas tão somente pelo bem emergencial, nunca pela melhora social de todo o corpo vivente, e que a caridade, como única forma de ação, nada faz pela inclusão digna e social destes excluídos. Tenho consciência de que a situação no Nepal, ou em qualquer outro lugar onde eventos naturais criem dor, é digna de ajuda universal, pois que vem do nada, independentemente de qualquer condição conjuntural de qualquer sociedade.

Os irmãos do Nepal são importantes, como também são importantes os irmãos Brasileiros. Para o nosso povo precisamos agir em pelo menos duas frentes, uma emergencial visando por fim ou pelo menos minimizar o máximo possível a fome e o sofrimento, e em outra frente, não menos emergencial, mas que leva maior tempo de ação e maturação, que é trabalhar para transformar nossa sociedade em algo que possamos coerentemente chamar de sociedade humana.

Quanto ao terremoto em si, ele é inevitável, mas podemos investir no estudo sério do ciclo de existência dos terremotos, e aos poucos aprender a identifica-los com alguma antecedência, como já hoje é possível no caso de tsunamis. Precisamos ter planos sérios e viáveis para atuação no depois do terremoto. Precisamos que os estados saibam que ajudar os que sofreram com um evento natural deste porte são seres humanos e precisam de ajuda, inclusive para recriar a infraestrutura necessária a continuidade do viver, pois que viver é preciso. Devemos ajudar o nosso povo, sim, mas sem virar a cara para os demais irmãos pelo mundo a fora, como já o fazemos com as desgraças de guerra e doenças na África, com os problemas político-religiosos, e com os nossos miseráveis locais.

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