Pensando o Viver

O lado natural, humano e social de quem pensa o viver, não apenas como um historiador, mas também como um transformador.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O Amor, entre suas múltiplas facetas, aquele do relacionamento a dois, ou a três...

Hoje gostaria de falar sobre o amor, mais especificamente sobre aquele tipo de amor que coloca alguma ordem na paixão, que acende algum fogo na amizade... Falar do amor a dois ou a mais de dois, uma vez que a cada um é dado o direito de construir o seu constructo de amor, não é fácil, primeiro porque sendo uma palavra única, expressa diferentes sentimentos, todos que de alguma forma têm em comum o bem querer. Ninguém, sadio mentalmente, confunde este múltiplo sentimento, o que sentimos por nossos filhos é diferente do que sentimos por nossa parceira, ou nosso parceiro, ou mesmo nossos parceiros (as), que é diferente do que sentimos por amigos verdadeiros, ou por nossos pais, que é diferente ainda do que sentimos pelos que sofrem, ou pelos nossos irmãos biológicos, e mais ainda por nossos irmãos em espécie. Uma palavra, diferenciados sentimentos, e a mesma dificuldade de agir sempre na dignificação daquele amor. Amar não é fácil, amar é difícil de tão simples que deve ser. Nascemos preparados mentalmente para sermos seres sociais, mas a evolução, por alguns milhões de anos, exigiu de nós que ao mesmo tempo em que crescíamos no desenvolvimento de nossa condição social, também tivéssemos que lutar individualmente para nos estabelecer, assim somos um complexo retalho de sentimentos muitas vezes antagônicos, necessidade social e individualidade, conviver e nos defender, dissimular e enganar, até mesmo para superar enganando nossas presas, ou facilitando nossa caça. Ao longo do tempo aprendemos a dividir o excedente da caça e da coleta, mas provavelmente somente depois de que nossa família tenha se fartado. A divisão da comida pode ter sido a melhor forma de nos tornarmos sociais, ao mesmo tempo que nos tornávamos importantes (poder e vaidade), isto é mais um antagonismo, mas que explica muito do comportamento da caridade insensível, daquela que nos faz parecer humanos, mas nos coloca vaidosamente superiores, um pouco daquele sentimento que faz com que muitos prefiram a caridade à verdadeira transformação, pois que nos faz parecer melhores, nos faz importantes, e mantem aqueles necessitados longe de se tornarem um risco ao nosso poder.

Agora que falamos um pouco sobre a diversidade maravilhosa do amor, gostaria de gastar algumas palavras falando ao amor por um parceiro (a) ou por diversos parceiros (as). Não creio absolutamente em amor à primeira vista, ou para ser mais específico, não creio em amor por parceiro(a)(s) à primeira vista. Muitos confundimos a paixão com o amor, mas para mim são claramente dois sentimentos diferentes, e em alguns casos até mesmo excludentes e antagônicos. Quem já sentiu uma paixão sabe como instintivamente ela é forte e prazerosa, e o tinha que ser para que ao longo dos milhões de anos da lenta evolução, a força desta atração, aliada ao desejo do prazer sexual, fossem força motriz da perpetuação de nossa espécie, pelo desejo de procriar e deixar assim descendentes que nos permitiram hoje aqui estar. Mas a paixão o que tem de atrativa, tem de enlouquecedora. A paixão é fogo que arde, e assim se gasta, consumindo com seu próprio fogo a origem desta mesma paixão. Desta forma a paixão é datada, pode variar de alguns meses, até cerca de sete a dez anos, o que garantia a reprodução e o cuidado inicial, a proteção básica, para que os descendentes passassem pela fase mais crítica dos primeiros anos. Manter pai e mãe juntos era necessário, pois que passamos a nascer cada vez mais “prematuros”, como forma de contornar o crescimento de nosso crânio para que este pudesse conter cérebros cada vez maiores. O desejo torrente pelo sexo, e a paixão para estar junto da parceira(o) garantiam além da fecundação, o mínimo de cuidado na defesa deste novo ser, e assim a evolução, naturalmente, sem destino, desígnio ou projeto, selecionou seres com desejo sexual e com paixão. Desta forma a paixão não pode ser vista como algo ruim ou pernicioso, pois que se você, ou eu, estamos aqui, é porque nossa linha genealógica foi preenchida com genitores desejosos de sexo e unidos por uma paixão (por favor, não estou dizendo que a paixão ou o desejo sexual sejam apenas heterossexuais, mas sim que nos heterossexuais, estas condições foram naturalmente selecionadas, e creio que em paralelo, este mesmo sentimento e desejo foi sendo refletido nos homossexuais ou bissexuais, simplesmente porque sejam características genéticas independentes entre si e que foram sendo selecionadas. Entendo que desejo sexual, paixão e sensibilidade ao tipo de parceiro(a) sexual são individualmente seleções genéticas independentes). Mas o amor está além da paixão, não no sentido vulgar de estar acima ou de ser superior, mas sim de que é um outro tipo de sentimento que necessita ser construído, reconstruído muitas outras vezes, para que parceiro(s) e parceira(s) continuem unidos pelo prazer, agora, pelo que o outro(a) é, independente da necessidade de procriação. 

Diferente de um amor por um filho, ou por um estranho, o amor por um(a)(s) parceira(o)(s) necessita(m) ser um ato múltiplo, de todos. Eu construo o que me é possível, reforçando em mim e no outro este sentimento, mas é necessário que o outro também construa sua parte reforçando nele próprio e em mim, este mesmo sentimento. Por isso este amor é mais complexo, pois que depende mutuamente um do outro, ou uns dos outros. Mais ainda, necessita comprometimento mutuo, necessita doação, necessita priorizar comportamentos, atitudes e trocas. Mas aos que chegam lá, e não se perdem na sua contínua reconstrução, este sentimento é extremamente reconfortante. Da paixão e do desejo, que consome, mas que nos une, temos um tempo, variável, por isso sem fórmulas ou scripts padronizados, para construir um verdadeiro amor que nos manterá unidos por um tempo infinito, enquanto conseguirmos reconstruir em nós, e no outro, este sentimento maravilhoso do amor. Desta forma fica claro para mim que o amor é um constructo natural, nada tem de divino, místico ou transcendental, e que depende de nós, de nosso compromisso, de nossa sensibilidade, e de nossa vontade, conseguir alcançá-lo e, mais ainda, mantê-lo.

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